segunda-feira, 30 de agosto de 2010

That's it.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas
- E basta de comédias na minh’alma!

- Fernando Pessoa -

Transmutação.

Tenho impressão que alguma coisa na minha cabeça muda. E muda forte. Não sei bem o quê. E como se estivesse muito mais velho. Assim como se um contato frontal com a morte fosse a única coisa que faltava para ficar definitivamente adulto. Pois é. Era terrivelmente real. E feio. E vazio — alguma coisa já não estava mais lá. A alma? Pode ser.

Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

The end².

"Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me"


A porta do quarto está aberta, da sala já se enxerga a figura feminina sentada na cama usando apenas uma regata branca e roupa íntima, os pés balançando seguindo o ritmo da música, os cabelos presos no alto da cabeça num coque mal feito deixam algumas mechas caindo no olho, os óculos de aros grossos dão um toque de seriedade, mas com estilo. A boca é pálida, um rosa claro que se confunde com o rosto rosado do calor, mas ela não se incomoda... Os olhos castanhos estão fixos no caderno que segura na mão, está escrevendo. Às vezes a gente se enche de idéias, emoções e momentos mas acaba guardando tudo pra si mesmo chegando a ponto de explodir... Ela criou o costume de escrever, mascaradamente, tudo que lhe acontece. Criou contos, textos longos, curtos, trechos... Todos auto-biográficos. Depois de dois anos ela ainda se espanta ao ver tanta gente se identificando com as dores do amor, o desespero de uma despedida, o mau humor no final de um ciclo... São coisas que você por vezes pensa que só acontecem com você, mas depois percebe que todo mundo passa por isso, todos vivemos experiências semelhantes, de um jeito ou de outro. E ver esse retorno das pessoas só a faz pensar mais na vida e em como ela é passageira e efêmera, as coisas acontecem rápido demais, as pessoas queimam um amor lindo em questão de meses e depois nada mais resta além da rotina, os aniverssários passam voando e ninguém percebe, as brigas com os amigos e família vão acontecendo por motivos cada vez mais idiotas e ninguém se toca disso... A vida vira uma rotina e isso é um erro.
Uma criança grita na rua, são dez e meia da noite, ela levanta os olhos do caderno e observa pela janela a menina de cabelos claros correndo de braços abertos no vento em direção aos pais, ela sorri. Que saudades da infância, saudades de ser criança, de se espantar com as coisas que acontecem no mundo, de ter curiosidade sobre tudo que acontece ao seu redor... Saudades de viver com olhos ingênuos e mente livre. Envelhecer é como usar um toldo sob os olhos, é como sentar num canto da sala e observar apenas as sombras que se formam na parede ao invés de ver o que de fato acontece. Quando se envelhece o coração murcha e perde a cor vermelho sangue que sempre teve, fica um bordô escuro, os olhos precisam de vidros pra acompanhar o mundo, os cabelos despedem-se do corpo e nascem já brancos, a ausência da cor ou talvez o excesso dela.
Ela se levanta e vai até o grande espelho no banheiro, o regime fez efeito, o corpo está voltando a ser como antes, satisfatório. Balança a cabeça de um lado pro outro e observa os cabelos caindo levemente no rosto, por momentos ela consegue ver o reflexo de uma menina sorridente de bochechas rosadas que acena vigorosamente pra ela de um canto distante, ela acena de volta. Manter a inocência da infância é necessário para se viver uma vida boa e completa, é preciso ter sede de conhecimento, é preciso não ter medo do que os outros possam pensar das suas escolhas, é preciso deixar a maldade de lado e acreditar na bondade do mundo, mesmo que seja pouca... Ela ainda existe.
O frio lá fora pede um cálice de vinho, ela caminha com ele de volta pra cama, chega de escrever por hoje. Encosta na parede e ouve lá de longe a voz suave dos irmãos Gallagher dizendo suavemente:

"So don't go away
Say what you say
But say that you'll stay
Forever and a day... in the time of my life
'Cause I need more time, yes I need more time
Just to make things right"


Todos precisamos de mais tempo pra fazer a vida valer a pena, pra fazer tudo certo, pra fazer o que se quer, o que se sonha... Mas o relógio corre sem parar e ninguém sabe ao certo quando o nosso tempo termina aqui, ninguém sabe se a vida continua do outro lado ou não... A única certeza que se deve ter na vida é que o momento é esse, a hora é agora e tem muita coisa nesse mundo que se pode aprender, muita coisa linda pra ver, muita gente pra ajudar, muita música gostosa de ouvir, filmes emocionantes, livros intensos, ar puro, muitos amigos novos pra conhecer, muitos lugares lindos pra visitar... O mundo é esse grande baú de surpresas, algumas boas outras nem tanto, mas de todas elas tiramos um aprendizado que se leva pra vida toda, isso ninguém pode negar.
Apaga a luz de cabeceira, o cálice já vazio está na mesinha ao lado do caderno de anotações. A mulher de vinte e três anos ainda dorme encolhida da mesma maneira que a menina sorridente do espelho, as bochechas rosadas e os cabelos caindo no rosto refletem a inocência ainda contida lá dentro, ela é menina-mulher, inocente e criança, madura e mulher, tudo na medida certa. O baú da vida está embaixo da cama, ainda cheio de segredos.

Cotidiano.

Sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.

Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.

Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.

Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora,  porque nem você nem eu somos descartáveis.

. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.


Com toda a minha saudade e o amor de sempre.

The end

Você me abandonou e eu nada pude fazer para impedir. você era meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. *te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. e tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue seu para manter-se viva. você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Cuida de mim enquanto não me esqueço de você.
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.


-O teatro mágico -

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Deixa tudo que eu não disse mas você sabia.



E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.  

- Ana Jácomo -

domingo, 22 de agosto de 2010

I wanna hold your hand.

Olha a luz que brilha de manhã
Saiba quanto tempo estive aqui
Esperando pra te ver sorrir
Pra poder seguir

Lembre que hoje vai ter pôr do Sol
Esqueça o que falei sobre sair
Corra muito além da escuridão
E corra, corra!

Não desista de quem desistiu
Do amor que move tudo aqui
Jogue bola, cante uma canção
Aperte a minha mão.

(...)

- Cidadão Quem -


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Devaneio.

Vós me obrigais a um esforço tremendo de escre­ver; ora, me dê licença, meu caro, deixa eu passar. Sou sério e honesto e se não digo a verdade é porque esta é proibida. Eu não aplico o proibido mas eu o liberto. As coisas obedecem ao sopro vital. Nasce-se para fruir. E fruir já é nascer. Enquanto fetos fruímos do conforto total do ventre materno. Quanto a mim, não sei de nada. O que tenho me entra pela pele e me faz agir sensualmente. Eu quero a verdade que só me é dada através do seu oposto, de sua inverdade. E não agüento o cotidiano. Deve ser por isso que escrevo. Minha vida é um único dia. E é assim que o passado me é pre­sente e futuro. Tudo numa só vertigem. E a doçura é tanta que faz insuportável cócega na alma. Viver é mágico e inteiramente inexplicável. Eu compreendo melhor a morte. Ser cotidiano é um vício. O que é que eu sou? sou um pensamento. Tenho em mim o sopro? tenho? mas quem é esse que tem? quem é que fala por mim? tenho um corpo e um espírito? eu sou um eu? "É exatamente isto, você é um eu", responde-me o mundo terrivelmente. E fico horrorizado. Deus não deve ser pensado jamais senão Ele foge ou eu fujo. Deus deve ser ignorado e sentido. Então Ele age. Per­gunto-me: por que Deus pede tanto que seja amado por nós? resposta possível: porque assim nós amamos a nós mesmos e em nos amando, nós nos perdoamos. E como precisamos de perdão. Porque a própria vida já vem mesclada ao erro.


- Clarice Lispector - 

Little things.


Ah. Menina, o que foi que foi que aconteceu com você? O que foi que fizeram com você? Eu não sei, eu não entendo. Roubaram a minha alegria, Tiamelinha quando foi pra clínica só dizia isso: roubaram a minha alegria, é tudo uma farsa, aquele olho desmaiado, é tudo uma farsa, roubaram a minha alegria. A primavera, o vento, esperei tanto por essa margarida, e veja só. Atrofiada. Aleijada. As pedras frias do chão da cozinha , rolar nua neste chão, qualquer dia faço uma loucura, faz nada, você está nessa marcação faz mais de dez anos. Mais de dez anos. A gente se entrega nas menores coisas. 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Again.

E de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim, eu digerindo faminto o que o teu corpo rejeita, bebendo teu mágico veneno porco que me ilumina e anoitece a cada dia, e passo a passo afundo nesse charco que não sei se é o grande conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim, nos afastamos depois cautelosos ao entardecer, e na solidão de cada um sei que tecemos lentos nossa próxima mentira, tão bem urdida que na manhã seguinte será como verdade pura e sorriremos amenos...


- Caio Fernando Abreu - 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pânico Lento.

"...amanhã a gente começa de novo. Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga. Algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação, esse contentar-se com quase nada. Estou todo sensível, as coisas me comovem."

Caio Fernando Abreu.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ser novo.

Desejo dar uma volta por aquelas altas e áridas cordilheiras de montanhas onde se morre de sede e frio, por aquela história "extratemporal", aquele absoluto de tempo e espaço onde não existe homem, nem fera, nem vegetação, onde se fica louco de solidão, com linguagem que é de meras palavras, onde tudo é desengachado, desengrenado, sem articulação com os tempos. Desejo um mundo de homens e mulheres, de árvores que não falem (porque já existe conversa demais no mundo!) de rios que levem a gente a lugares, não rios que sejam lendas, mas rios que ponham a gente em contato com outros homens e mulheres, com arquitetura, religião, plantas, animais - rios que tenham barcos e nos quais os homens se afoguem, mas não se afoguem no mito e lenda e nos livros e poeira do passado, mas no tempo e no espaço e na história. Desejo rios que façam oceanos como Shakespeare e Dante, rios que não se sequem no vazio do passado. Oceanos sim! Tenhamos novos oceanos que apaguem o passado, oceanos que criem novas formações geológicas, novas vistas topográficas e continentes estranhos, aterrizadores, oceanos que destruam e preservem ao mesmo tempo, oceanos nos quais possamos navegar, partir para novas descobertas, novos horizontes. Tenhamos mais oceanos, mais convulsões, mais guerras, mais holocaustos. Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucura, um mundo que produza extâse e não peidos secos. Creio hoje mais do que nunca é preciso procurar um livro ainda que de uma só grande página: precisamos procurar fragmentos, lascas, unhas dos dedos dos pés, tudo quanto contenha minério, tudo quanto seja capaz de ressuscitar o corpo e a alma.


- Henry Miller. -

Aprendendo.


Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!

- Fernanda Mello. -


Nova óptica.

"Uma vez que você tenha experimentado o vôo,
você irá caminhar com os olhos voltados para cima,
pois lá você esteve e lá você quer estar."

[Leonardo da Vinci]

A gente esquece, sabendo que está esquecendo.



Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi depois que foi embora. Nunca nos escrevemos. Não havia mesmo o que dizer, ou havia? Ah, como não sei responder as minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar — e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Falta de ar.


Este lugar é pequeno demais pra mim. Não sei porque ainda estou aqui. O mundo me chama pra ir lá fora, por que será que ainda não fui embora?! Será que a culpa é minha? Será que essa vida fui eu que escolhi? Mas toda vez que eu vejo e penso que não podia está vivendo desse jeito, Eu me arrependo de não fugir. E porque sempre tem alguém que te fale o que fazer, E nem pense no porque você é assim. A verdade só eu sei. Nunca tive, nem terei, um só dia pra viver com quem sempre quis. Se um dia acabará, eu só me pergunto: Será?

Um novo caminho, outras mudanças. Um novo dia, mais esperanças. Perguntas e respostas surgem assim.. Será que virão pra você e pra mim?

- Ladz - 

Far away.


Alguém me interne no paraíso, preciso urgente dar um tempo por lá! O dia passa enquanto eu perco o juízo. Quem foi que inventou que é assim? Sorrisos plásticos cumprindo seu papel enfeitando um rosto de pedra. Se a regra é ser tão simpático, mesmo que seja só pra convencer toda platéia. Abraços vazios, olhares de gelo; Tão descartáveis quanto cascas no chão. Flashes capturam a melhor fachada. Mas quem vê foto não vê coração! Não quero mais fantoches ao redor, agindo sempre assim só quando for conveniente pra ganhar bônus e somar pontos à sua carteirinha de hipócrita oficial.

I wanna be away from here, 
Quando essa bomba explodir!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Game Over.

Oh, look what you've done
You've made a fool of everyone
Oh well, it seems likes such fun
Until you lose what you had won

 

E o resultado de quem se arrisca, nas loucuras trazidas pela vida, nem sempre é positivo. Mas, “não temos culpa, tentei. Tentamos.

Quando tudo isso começou, eu não queria me envolver com ninguém. Não mais. Estava cansada de me doer por alguém que jurava me amar, que dizia sonhar em ficar comigo. Atitudes incoerentes, promessas volúveis, coração em pedaços. Foi nesse meio que você me encontrou. E olha só, faziam apenas quatro dias que eu havia chorado pelo “amor de minha vida.” E eis que você me aparece. Assim mesmo, por acaso.

 Foi tudo tão rápido. Quando me dei conta, já tinha acontecido. Eu já tinha arriscado tudo àquilo que lutei tanto para ‘preservar’. O que restava era encarar as conseqüências. Pois é, agir sem pensar dá nisso. Agora me responde: Pra quê? Por quê? (...) Não! Não pense você que me arrependo. Não se trata disso. Viveria tudo novamente, se possível. O que estou querendo enfatizar é o produto que tudo isso acarretou na SUA vida. Nosso envolvimento foi uma forma de fugir da realidade, para ambas as partes. Para mim, foi uma fuga que me rendeu esperanças, pois aliviou uma dor que eu não consigo curar. Te agradeço por isso. Mas, e para você? O que restou disso? (...)

 Olha, planejar todo um teatro e atuar fingindo que estava tudo bem só para atingir alguém, não foi a melhor maneira de fugir dos seus problemas. Ainda mais quando esse ‘alguém’ é a pessoa que você diz amar. Quando percebi o que estava se passando, atuei com um personagem diferente. Fui mocinha e vilã. Fiz o melhor que pude. Mas, até agora não compreendi o que você pretendia com tal representação. 

Dá pra entender onde eu quero chegar? Você errou. Eis a questão. Mas, não sou ninguém para te julgar... Também já usei de atitudes insanas e desesperadas para chamar atenção da pessoa que, supostamente, amava. E sabe qual foi resultado? Inútil. Não muito diferente do seu agora. Na época, só acabei criando um abismo sem fim no qual me perdi, e pior, perdi o meu amor. Isso soa familiar para você? Sente algo semelhante no presente momento? Se for assim que se sente, eu te compreendo completamente. E repito: não te julgo.

 Embora tenha dito: “Estou bem. Preciso apenas resolver coisas pendentes da minha vida...” Você está sofrendo, isso é fato. A quem você esta querendo enganar? Sorri para o mundo quando a sua única vontade é sentar e chorar. Meu Deus! Como consegue? Pare com isso! Pare com essa farsa. Não percebe que isso te consome cada dia mais? Que só faz crescer a sua dor? Para de mentir para consigo. Encare as conseqüências de seus atos de cabeça erguida. Chore. Sinta. Peça desculpas. Não desista. Você sabe que o tempo é curto. Que cada dia a mais, é um a menos... E setembro está ai, viu? Chegando para acabar com o mês do desgosto, e para levar o seu amor embora. Você sabe a que me refiro.

 É bem verdade que não se pode mais voltar atrás. Mas, me diz uma coisa: Você vai realmente se conformar com esse desfecho? Vai deixar o seu amor 'perdido' ir embora assim? Com tantos ressentimentos? Depois de tudo que vocês viveram? Caramba, acorda! Isso pode ser mudado, basta você querer. Não seja idiota, não deixe isso se perder. Tente pelo menos. Se não der certo, é por que não era pra ser. Mas, vai lá... Faz um esforço. Saia desse comodismo barato e lute pelo que você acredita ser verdadeiro. Porque se não fizer isso agora, amanhã terá que aprender a viver com o que poderia “ter sido e não foi”.

 Enquanto isso estarei aqui, torcendo para que esse final seja diferente. Veja bem, não te quero mal nenhum. Se chegar a ler esse texto até o fim, que compreenda o valor dessas palavras. Quem sabe um dia a gente não se cruza nessa cidade e acaba conversando sobre as coisas boas que ficaram disso tudo que aconteceu? Hoje, eu quero apenas que você desperte e não se deixe sucumbir ao estado de inércia em que se encontra. Por mais dificil que a situação esteja e/ou pareça, tenha sempre isso em mente: “...é só você se deixar sentir, não temer, só sorrir. Dizer que só quer ser feliz.”

Queira ser feliz, ouviu? Isso é o que importa...

 

Lara Leite



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A[des]gosto

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro — e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.


[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O sol, a lis e o beija-flor.

Flor de Lis, não vá dizer. Se o vento tem compaixão pra te ver, te fazer esquecer da dor do coração. Eu sei que o farol te faz relembrar das noites com girassol. Talvez se você não chorar,  se você me deixar ajudar. Te tocar no coração, saber que mais forte que a dor é o amor que bate por ti. O amor do tão bom beija-flor. Flor me diz o que fazer se um beijo seu não posso ter, Se não fiz por merecer. Quem sabe se eu te disser: Mais duro é o amor de partir, Se fica a olhar ele ir. Mais puro é o amor que está aqui, É só você se deixar sentir. Não temer, só sorrir. Dizer que só quer ser feliz. Poder ver o pôr-do-sol com o beija-flor, não mais com o girassol.

- Circuladô de Fulô. -