terça-feira, 28 de setembro de 2010

Dançando pela vida feito faz-de-conta.

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido.
Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.
O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência.
De certo tudo deve estar sendo o que é.

- Clarice Lispector - 


Teus passos somem
Onde começam as armadilhas.
Curvo-me sobre a treva que me espia.

Ninguém ali. Nem humanos, nem feras.
De escuro e terra tua moradia?

Pegadas finas
Feitas a fogo e espinho.
Teu passo queima se me aproximo.

Então me deito sobre as roseiras.
Hei de saber o amor à tua maneira.

Me queimo em sonhos, tocando estrelas.


- Hilda Hilst -

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Deixa amanhecer.

Eu sei, Que às vezes não sou quem
Te faz rir, Te faz sonhar.

Eu não sei. Às vezes eu não sei
Me conter, Me comportar.

Deixa amanhecer.
Foi meu mal, Foi sem querer.
Vou aprender o que é ser um bom par.



- Moptop -

Ando só.



É preciso coragem. Uma coragem danada. 
Muita coragem é o que eu preciso.
Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…
porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada.
Sei lá...


- Clarice Lispector -

Silêncio.

E o que aconteceria depois? Pois ela sentia que ele ainda a olhava, mas seu olhar havia mudado. Ele queria alguma coisa - exatamente o que ela achava tao dificil de lhe dar : queria que ela dissesse que o amava. Mas isso ela nao podia fazer. Ele tinha muito mais facilidade para falar do que ela. Ele conseguia dizer as coisas - ela nunca. Assim, naturalmente, era ele quem sempre dizia as coisas, e, por algum motivo, de repente se ressentia disso e a reprovava. Uma mulher fria - era como ele a chamava; nunca lhe dizia que o amava. Mas nao era nada disso - nao era isso. É que ela nunca conseguia dizer o que sentia, isso era tudo.



Virginia Woolf.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Can I?

Deixa eu chegar mais perto?
Deixa eu te olhar o mais próximo que der?
Eu quero ver cada detalhe de teus olhos.
Quero sentir teu respirar em meu rosto.
Deixa eu sentir o teu rosto?
Deixa eu sentir o teu gosto?
Quero te beijar bem lento.
Quero sentir meu coração acelerar.
Deixa eu te abraçar forte?
Me faz acreditar!
Deixa eu te dizer o que sinto quando estou com você.


- Jonathas Iohanathan -

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O que foi e o que ficou.

Eu nunca me apaixonei por você, mas sempre gostei muito. Principalmente porque achei que você gostasse de mim. Admirei seu coração e respeitei seus medos. Agora, já não sei se ainda sinto. Lembra da minha coleção de decepções? Você faz parte dela agora. Não definitivamente pela minha mania de preferir acreditar na inocência. Foi tudo uma coincidência até que se prove o contrário. Foi algum tipo de vingança ou foi só por acaso? Qualquer das opções foi muito infeliz. Se você queria me ver mal, acertou muito. Mas conquistou um sentimento meu desaconselhável. (...) Obrigada por abrir meu olhos. Eu sempre achei que avisar as pessoas do que eu sinto fosse me prevenir de mais decepções, mas eu percebi que só me deixa mais vulnerável. Idiota fui eu, de acreditar cegamente em tudo. Obrigada por me deixar mais seletiva, mais fechada. Seria ridículo culpar você por alguma coisa. O resultado óbvio de tudo o que eu fiz só podia ser isso. Foi melhor que falar.


- Verônica H. -

domingo, 12 de setembro de 2010

Puro simulacro.

Quero mudar minha vida. Tenho 19 anos, é tempo de fazer alguma coisa. Talvez eu tenha medo demais, e isso chama-se covardia. Fico me perdendo em páginas de diários, em pensamentos e temores, e o tempo vai passando. Covardia é uma palavra feia. Receio de enfrentar a vida cara a cara. Descobri que não me busco ou, se me busco, é sem vontade nenhuma de me achar, mudando de caminho cada vez que percebo a luz. Fuga, o tempo todo fuga, intercalada por períodos de reconhecimento. Suavizada às vezes, mas sempre fuga.


- Caio Fernando Abreu -

Que seja.

Vou ser feliz, sem me importar com o que isso irá causar aos outros. O importante é que não estou fazendo mal a ninguém, pelo contrário! Estou apenas enterrando as impurezas e toxinas da minha vida e deixando brotar uma bela e frutífera árvore, e que seja doce...


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Todo cuidado é pouco!


A mulher histérica é coquete e necessita de público. Chama atenção ao primeiro contato pelo estilo “cheguei”, teatral, artificioso, inautêntico, carente de atenção e elogios. O paranóide tenta dominar o mundo pela lógica cruel de seu delírio; o obsessivo vence pela rigidez da organização; o histérico conquista – e principalmente as mulheres histéricas – pelo gracioso jogo de sedução. Mesmo que a tenhamos visto ou conversado muito superficialmente, abraça-nos efusivamente, beija-nos, diz que nos adora.
A mulher histérica faz-nos parecer velhos amigos. Não deixa de ser agradável a falsidade da mulher histérica, especialmente quando a vida está carregada do amargor dos dias. Sem sombra de dúvidas, perdoem-me os perfeccionistas, mas o “me engana que eu gosto”, por vezes, na solidão faz falta.
A mulher histérica não tem emoções somente; ela é a própria emoção personificada. O decote sedutor, o olhar encantador, o cruzar de pernas “voyeristas” faz da mulher histérica terrível arma de êxtase e desenganos. Muda de humor como político de partido. Chora, ri, pedes desculpas depois de agredir, anoitece amando e amanhece abandonando. Declara amor eterno com a mesma facilidade que arruma as malas e vai embora. Tem muito homem inexperiente dormindo debaixo da ponte da existência por causa da mulher histérica.
Nunca contrarie uma mulher histérica. Elogie- lhe o que estiver bonito em suas roupas, adornos e adereços. Você jamais resistirá ao choro e às lágrimas, mesmo superficiais, da mulher histérica. Lembrem-se sempre que Napoleão Bonaparte, conquistador de batalhas, perdia-se ante os prantos de Josefina. Siga-lhe o exemplo.
A mulher histérica é extrovertida, transforma em alegria e dor tudo que toca sua sensualidade. Na sexualidade, no amor romântico, na possessividade, na busca da fama, a mulher histérica é um perigo. Ela faz da busca a fama o centro das atenções. Cuidado! Muito cuidado! Os seus olhos, como seu sexo são de uma lubricidade infinita.
O olhar desconcertante. A expressão corporal é de profunda provocação sedutora para o amor. A mulher histérica carrega em seu olhar úmido a carência do afeto. E mais que isso: possui esse olhar úmido da tragicidade, do encantamento, do devaneio e das grandes paixões eletrizantes. O problema, para o frágil homem envaidecido, é que a mulher histérica em seu narcisismo, vai fazê-lo sensivelmente amado, quando na verdade ela ama só a si. Vaidosa, egocêntrica exibicionista, dramática, faz o teatro para si e para o mundo, no exato papel que o mundo ou a vida lhes nega. Cuidado homem vaidoso, com o amor da mulher histérica: é forte e ao mesmo tempo falso; intenso e frágil; profundo e superficial. Muita atenção: ela é imprevisível. A mitomania, mania de mentir e acreditar na própria mentira, é fundamental como traço de sua personalidade. Mistura fantasia e realidade, não sabendo quando uma começa e outra termina. De imaginar fértil e fantasiosa, pode chegar a calúnia para chamar a atenção sobre si e sentir-se o centro do mundo. Pode afirmar a você, homem frágil, que foi cantada, inventar histórias onde são vítimas da sedução sexual, sentir-se perseguida pelo marido, médico ou namorado da irmã. Assim engana e se engana para ser valorizada.


- Maurilton Moraes -

Reinvento

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido. Pensar é transgredir.

.Lya Luft

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O diabo anda solto.



Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.


- Paulo Leminski -

domingo, 5 de setembro de 2010

Pessimismo romântico ou realismo neoliberal?

A finalidade deste artigo, aparentemente esquizofrênico, é demonstrar que o amor moderno tem o mesmo valor especulativo das bolsas de valores. Ora, se para os mais entendidos no assunto o amor da escravatura não é igual ao amor romântico inventado pela cavalaria do século XII, e muito menos semelhante ao amor romântico da burguesia, compreenderão com facilidade didática: o amor neoliberal, o amor do “ficar”, é tão rápido e fugaz quanto o capital especulativo das bolsas de valores que se comporta como uma “nuvem de gafanhotos”, oscilando entra a Tailândia e Nova York, Alemanha e Cingapura, Taiwan, Hong Kong, e até no Brasil. A tese é muito simples: o amor é tão amorfo, tão “sincero” quanto a ligação sexual entre Dow Jones (índice da bolsa de Nova York) e Sang Seng (índice de Hong Kong). Ou seja, no amor moderno não há segurança alguma.
Para vocês, amigas e amigos, que andam chorando o amor perdido, não se precisa recorrer ao velho Marx para entender a questão. Mas, vale a pena dizer que mesmo após a queda do Muro de Berlim, a consciência individual ainda é reflexo da consciência social. E a consciência social está dependente das relações de produção de produção e trabalho. Ora, meu caro, se não há estabilidade mais em nada; se os empregos desaparecem e se transformam; se a notícia é verídica pela manhã e inverídica pela tarde; se tudo é volátil, como você pretende que o seu amor seja eterno? Não chore por mais um amor, ele agora é neoliberal, dura pouco, não resiste a duas ou três crises, como na bolsa.
Basta andar pela noite e entenderá a correlação do neoliberalismo e o amor. Os sedentos de amor percorrem dois, três e até mais bares, uns à procura de aventuras de lucro (os mais modernos), e outros em busca de uns relacionamentos estáveis, igual ao tempo dos nossos pais e avós, como se num passe de mágica voltassem a existir. Uns querem “ficar”, outros “estar”. São verso e anverso de uma medalha: a luta contra a solidão.
(...) Por isso mesmo – “Perdidos na Noite Suja” - não se desiludam. Acostumem-se. O mundo mudou. Filhos não amam os pais como antigamente; a solidariedade é antagônica à competência; os jovens brigam com os pais por dinheiro do “shopping” e nem entendem o que é Bolsa de Valores. Muito menos lêem jornais ou assistem a noticiários. O perfil do amor e da família será diferente no século XXI. Desenganem-se de amores eternos, embora possam surgir por escape da lei das probabilidades.
Homens e mulheres estão como especuladores das bolsas. Esperam a fragilidade e a desvalorização cambial dos afetos. Poucos ganham e muitos perdem. E tamanha competição entre homens e mulheres na luta pela felicidade termina em alta de juros: juros da dor.


- Maurilton Moraes - 

Não tem preço.



Depois foi ao Hyde Park e deitou-se na grama quente,
abriu um pouco as pernas para o sol entrar. Ser mulher
era uma coisa soberba. Só quem era mulher sabia.
Mas pensou: será que vou Ter que pagar um preço
muito caro pela minha felicidade? Não se incomodava.
Pagaria tudo que tivesse de pagar. Sempre pagara e
sempre fora infeliz.

 - Clarice Lispector -

"A solidão o cerca e o abraça, sempre mais ameaçadora, asfixiante, opressiva, terrível deusa e selvagem mãe das paixões - mas quem sabe hoje o que é solidão... Uma coisa é o abandono, e outra a solidão; eis o que aprendeste agora! Que entre os homens serás sempre selvagem e estranho mesmo que te amem[...] Vens... ouço−te. O meu abismo fala.[...] A cada alma pertence um mundo diferente; para cada alma, toda outra alma é um além−mundo."

Friedrich Nietzsche.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

About me.

Sou de gêmeos. Um signo de ar, mutável. Eu me distraio com tudo e você não imagina a facilidade que eu tenho de viajar sem sair do lugar. Mas nem tudo que nasceu comigo, ficou. Algumas situações amarraram meus pés no chão, fazendo com que eu me agarrasse firmemente à realidade. Paixões platônicas, Lindo, são para crianças. Foi isso que eu repeti silenciosamente, até me convencer. E deu certo. Quando começo a me iludir por alguém, racionalizo tudo: Por que eu me interesso tanto por ele? Por que ele se interessaria por mim? Por que a gente daria certo? E funciona! Esqueço com impressionante rapidez do meu interesse. Ah, as coisas ficam tão mais fáceis desse jeito! Você não sabe, Menino, mas eu machuco as pessoas. Eu faço com que elas se apaixonem por mim como um desafio, como uma criança testando seus limites. Então enjoo do meu jogo e não dou explicações. Destruo corações que se abrem pra mim com tanto esforço, na esperança de terem encontrado alguém legal. Ainda dá pra você fingir que não me viu. Se der tempo, se você tiver o raro dom de controlar seu coração, se o sentimento não estiver suficientemente forte à ponto de você se prender, fuja. Se você nem ao menos me diferencia das outras pessoas que te cercam, como eu imagino, permaneça assim. Não se aproxime, não se apaixone. Não me escolha como a eleita dos seus dias. Escolha uma dessas meninas com perfis de orkut todos iguais, que gostam de msn, que querem ser pedidas em namoro. Essas meninas que choram e sofrem, depois esquecem e ficam submissas. Dessas que conseguem se apaixonar, se apegar, amar. Eu não sou assim. Eu sou fria e jogo com as pessoas - não por maldade, mas porque inconscientemente me envolvo com brincadeiras, que na verdade são vidas de gente que ama e sofre de verdade. É, procure a saída mais próxima e parta de vez para uma relação humana, comum, sólida, eterna na sua duração e cheia de palavras e promessas de carinho. Eu tenho aflição de toque e sou incapaz de jurar amor sem pensar e ter certezas.

- Verônica H. - 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Do lado de cá.


Tu olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim. Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...

- Antoine de Saint-Exupéry -

Tem explicação?

"Meu irmão, a gente tem que descobrir maneiras
— sejam quais forem — de ficarmos fortes."

... dentro daquela saudade que não ia embora por mais que o tempo passasse e dentro dele, mesmo sem lembrar, apenas agindo, todos os dias eu acordava e tomava banho, escovava os dentes e fazia todas essas coisas rotineiras, igual a alguém que aos trancos, mecanicamente, continua a viver mesmo depois de ter perdido uma perna ou um braço que, embora ausentes, ainda doem - sem poder evitar, inesperadamente, sem querer evitar, outra vez lembrei de Pedro.