quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando disse na saída,
deixo meu sorriso
disse bem,
até sorrir pra você
não vou sorrir pra mais ninguém
também disse,
o que se deixa é o que permanece
não esqueça essa sou eu,
que agora desapareceu
E se mais não disse, é que sorria
um sorriso que ficasse,
para depois de ter ido
como se nunca partisse,
como se tudo existisse
ah! se eu soubesse,
ah! se você me visse


- Alice Ruiz -

It's true.

Coragem de amar e desamar, coragem de morrer e desmorrer,
coragem da cólera, da tristeza - ô Deus -
até nos enterros, as pessoas tão contidas, tão exemplares.
Se controlando pra não chorar alto, porque se o choro fica forte
já vem alguem com a pílula, a injeção, o analista.


- Lygia Fagundes Telles - 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010



We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

terça-feira, 7 de dezembro de 2010



- Eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas, tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme, só olhando você, sem dizer nada, só olhando e pensando:
- Meu Deus, mas como você me dói de vez em quando.


Caio Fernando Abreu.

sábado, 4 de dezembro de 2010



Mas nós somos um quadro de Klimt, O beijo para sempre, fagulhando em cores. Resistindo a tudo seremos dois velhos felizes de mãos dadas numa tarde de sol.

Pra sempre, te amo.


- Vanessa da Mata -  

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010


Era uma vez o País das Fadas. Ninguém sabia direito onde ficava, e muita gente (a maioria) até duvidava que ficasse em algum lugar. Mesmo quem não duvidava (e eram poucos) também não tinha a menor idéia de como fazer para chegar lá. Mas, entre esses poucos, corria a certeza que, se quisesse mesmo chegar lá, você dava um jeito e acabava chegando. Só uma coisa era fundamental (e dificílima): acreditar!


Caio Fernando Abreu

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Fantasia e realidade brigam.


Se você pedisse para eu descrever a imagem de meus últimos dias eu lhe diria o seguinte:
Está no fim na tarde… Ou seria início da noite? Bem, não sei bem. É como um filme de rolo. São várias fotos passando em alta velocidade criando a ilusão do movimento. É isso. O movimento é uma ilusão. Tudo está parado, parado demais. Olhando de dentro de um ônibus pela janela é a mesma sensação que se tem. São dois universos vizinhos um do outro. É o mundo que passa do lado de fora, são as pessoas do lado de dentro. Mas voltando ao olhar pela janela… Olhar pela janela é como um filme antigo. Aquele lance do “movimento ilusório”. As coisas paradas lá fora se movem rapidamente e parecem imagens. Não sei, é sério demais para uma conversa descontraída.
Meus caros, são muitas as bobagens já ditas (acima, principalmente), mas percebam: voam os dias. Ontem foi segunda. Hoje é terça. O tempo passa tão depressa que já parece que se passaram um tarde inteira enquanto escrevo isso. Não sei. É sério demais para mim.

Leave me alone.


Não tenho muito que dizer, eu acho. As coisas continuam iguais. O velho e miserável desfilar de programação social. E qualquer motivo é pretexto. Qualquer motivo é consolo. E eu só quero que tudo isso acabe logo para que eu possa desistir de tudo, poder ir embora logo e voltar para casa de uma vez por todas. Voltar pros meus vãozinhos e para toda aquela obsessão de continuar a esperar o que nunca vai vir. E voltar chega a ser tão arriscado quanto foi a ida. E eu dizendo para mim mesma que tudo bem, num conformismo barato de quem finge que não sabe, mas que toda hora vai lá espiar para ver se é mesmo verdade. Porque já foi. E Sempre vai ser assim. Porque as janelas continuam como antes: bloqueadas. E me resguardam, apesar do desespero e a necessidade em que precisam ser abertas. E tudo para quê? Para a gente terminar caindo na própria armadilha. É só que antes, eu costumava ser aquela que recebia todas as recompensas por bom comportamento e hoje...? Hoje eu só me pergunto em qual espelho foi que aquela lá ficou perdida.


Que mais restava àqueles dois senão, pouco a pouco, se aproximarem, se conhecerem, se misturarem?Pois foi o que aconteceu. Tão lentamente que mal perceberam.


Se possível.



Nessa hora e meia, a gente vai falando do jeito da gente. Os tempos da ingenuidade. Da desatenção. Do não saber de nada. Do susto que se tomou ao se conhecer quase nada. Dos tempos da quixotada. Dos restos de amadorismo. Do amadurecimento. Da raiva. Essas coisas todas que foram transformando a gente. Que hoje tem o mesmo riso, faz a mesma algazarra, gosta de cachaça, etc...Mas, que melhorou o jogo de cintura, aprimorou o físico, desenvolveu o faro. Além de ter aprendido a prender a respiração quando o cheiro não é dos melhores. O concerto é isso aí. Devagarinho vai se levando. Pra no final, a esperança ser posta na berlinda, de novo. Esperança de vida nova. Esperança que pinta, mas já com a certeza de que a gente tem que cavar. Tem que tomar. Na marra. Rindo. Se possível.



Elis Regina.

domingo, 21 de novembro de 2010

Em outras palavras: um dia você cai na real.



Fiquei triste. Ai, desculpa, mas fiquei. O ser humano é cruel, às vezes tenho vergonha de ter nascido humana. Sempre disse que prefiro os bichos, você lembra? Prefiro bicho, que gosta ou não gosta, que lambe ou morde. Um bicho nunca vai dar sorrisinho falso, dar tapinha nas costas e falar mal de você na próxima esquina. Ah, me deixa, eu fiquei triste e me deixa, me deixa, me deixa com minha tristeza num cantinho qualquer do coração.

Todo mundo vai te decepcionar, sabia? Sua mãe, seu pai, seu marido, sua amiga, seu vizinho. Todo mundo um dia vai fazer uma merda federal e ferrar com tudo que você sonhou. A gente tem tantos sonhos, tantas verdades floridas e bonitas. Meu Deus, como eu queria uma vida cheia de cor. Meu Deus, como eu queria uma realidade mais doce. Mas não. A vida é meio amarga, azeda, meio de verdade. Isso assusta, assusta, mas a gente precisa ser forte.

Sabe de uma coisa? Não, você não sabe. Vou te contar. Eu ando tão sensível. Precisando assim de uma palavra suave, de um gesto inesperado - e belo. Você consegue me surpreender de um jeito bom? Diz que sim, preciso tanto de você. Que coisa louca essa: a gente precisa de alguém. Mas, sabe, a gente sempre precisa de alguma coisa que nos coloque no eixo. Ando meio fora dos trilhos, se é que você me entende. Andei pensando na vida - é, sei que isso dá calafrios. Mas percebi que não adianta protelar. Preciso agir, agir, agir, largar essa pureza tosca, maldita, essa pureza pura, bonita e seguir. Eu preciso, por favor, me dê tapas fortes na cara, eu preciso entender que existe uma parcela de gente que é filha da puta, que mente, que engana, que trapaceia. (...)

Já falei tantas vezes: palavra é a coisa mais séria que existe na minha vida. Por favor, não me engane. Por favor, não me enrole. Por favor, não me minta. Quando eu confio, confio de corpo, alma, coração. Não faça com que eu perca essa pureza. Entende? Confiar é se entregar. Dar a palavra é assinar um contrato imaginário: minha alma não vai ferir a sua. Por favor, dê valor para as suas palavras. Por que as pessoas são assim? Por que elas traem nossa confiança? Fico triste, triste. Essa crueldade não é pra mim.


- Clarissa Corrêa -

Fuga.


O amor é o ridículo da vida.
A gente procura nele uma pureza impossível.
Uma pureza que está sempre se pondo, indo embora.
A vida veio e me levou com ela.
Sorte é se abandonar e aceitar essa vaga ideia de paraíso
que nos persegue,bonita e breve,
como borboletas que só vivem 24 horas.
Morrer não dói.

 - Cazuza - 

domingo, 14 de novembro de 2010

Realidade.



Sobre cada dia ela se equilibrava nas pontas dos pés, sobre cada frágil dia que de um instante para o outro poderia se partir e cair em escuridão.
Mas ela milagrosamente o atravessava e exausta de alegria e cansaço chegava a dormir para o dia seguinte surpreendida recomeçar.


- Clarice Lispector. -

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Filme em câmera lenta.


E então eu fui ao seu encontro. Eu e meus sentimentos que tentava acalmar. Você e seu jeito indecifrável. Você e seu abraço que eu sempre imaginei perfeito. E agora eu não sei descrever o que sinto ao lembrar de você, do seu sorriso, do seu cheiro como um todo. E como é lindo te ver dormindo. Tão sem reação, tão sua. E nem consegui dizer que ficou muito óbvio que eu nada poderia fazer além de pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado pra que você crescesse livremente, pois abrir as portas e janelas de nada adiantariam diante de algo tão sem limites que você plantou dentro de mim mesmo que sem querer.


- Camila Aguilera - 



Aconteceu.


O que dizer sobre a felicidade? Nada. Isso enche o saco de todo mundo. A felicidade de uns faz a infelicidade dos outros. Vocês iriam ficar com inveja, mesquinhos. Por que é que as coisas estavam indo tão bem assim para a gente, e não para vocês? Eu também não vou contar para vocês a respeito da minha cara de pateta sorrindo, viu? Isso não se conta, um sorriso, sobretudo com cara de pateta. Eu não vou transcrever para vocês as tolices adoráveis que a gente fica trocando um com o outro ao longo das noites, nem descrever a maneira dele de recolocar as minhas mechas atrás da orelha, a suavidade do rosto dele contra o meu, o seu olhar mergulhado no meu. Como estão vendo, eu caio rapidamente nos piores clichês. Rostos grudados, olhos nos olhos, mão na mão... Como a gente fica babaca quando apaixonada. 


Lolita Pille.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sempre de verdade.



O que eu peço é que você seja sempre de verdade também. Que me queira assim, imperfeita e cheia de confusões. Que saiba os momentos em que eu preciso de uma mão passando entre os fios de cabelo. Que perceba que às vezes tudo o que eu preciso é do silêncio e do barulho da nossa respiração. Que veja que eu me esforço de um jeito nem sempre certo. Que veja lá na frente uma estrada, inteiramente nossa, cheia de opções e curvas. E que aceite que buracos sempre terão. O que eu peço é que você me veja de verdade. Que não queira a melhor mulher do mundo. Que você olhe dentro de mim e veja o que eu sou, com meus momentos de sabedoria, esperteza, alienação e ingenuidade, porque eu nunca vou saber tudo. E entenda que de vez em quando faço questão de não saber nada. Que você note que eu faço o melhor de mim e vezenquando desconheço o que eu realmente posso ser. Peço que você tenha paciência grátis e um colo que não faça feriadão. Que me ensine mais, a cada dia, o meu. E o seu.


Clarissa Corrêa.

Por um segundo mais feliz.



Vontade de sentar no primeiro degrau da escada e te esperar chegar do trabalho, te contar sobre o meu dia sem graça e ouvir você contar aquelas piadas que eu já cansei de ouvir mas mesmo assim, sempre acabo rindo contigo no final. Vontade de levantar mais cedo pra fazer aquele chocolate quente que você adora e te levar na cama só pra ver o seu sorriso me dando bom dia e sentir você se enrolando em mim feito gato quando ronrona na perna do dono. Vontade de esperar você entrar no banho e, logo em seguida, me esgueirar pra debaixo do chuveiro com você e te surpreender. Te ligar no meio do dia só pra dizer que eu te amo, te mandar cartinhas bobas feito uma adolescente apaixonada e te fazer corar. Deixar flores na beirada da cama no dia do seu aniversário e ouvir você me falando que foi a coisa mais fofa que alguém já fez por você. Vontade de fazer dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço, desafiando assim as leis da física mas jamais desafiando as leis do amor, mostrar pro mundo que dois corações podem bater num mesmo ritmo por toda a eternidade. Vontade de andar pela praia no meio da noite de mãos dadas ouvindo o som das ondas quebrando e sentindo o vento nos cabelos, encher o peito de ar e sair gritando sentimentalidades bobas e fofas pra natureza ouvir, como testemunha, como você meche comigo de um jeito incrível. Vontade de pegar o primeiro vôo pra Europa e te mostrar lugares maravilhosos ao redor do globo. Vontade de deitar na rede contigo no domingo a tarde, ouvindo uma boa música, e ficar em silêncio te abraçando, compartilhando sem palavras, momentos maravilhosos, porque o que sentimos vai além de palavras e gestos.
Num caminhão de vontades cabe muita coisa... E todas elas eu quero compartilhar com você, porque a vida é curta e o amor é lindo demais pra se deixar passar em branco.


- Lorrayne T. -

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Enquanto isso...



Estão todos olhando a moça passar. Falam de seu corpo, comentam seu mistério, disputam sua atenção. Mas se a moça olha, mudam de assunto, se a moça pede ajuda, ninguém escuta e se quiser companhia - coitada da moça! - vai continuar só. É assunto na academia, atrai olhares no trabalho e quando sai de noite também. Mas ela dorme sozinha e tem um vazio no peito que ninguém tem vontade de ocupar. A Menina tem um coração pesado que ninguém quer carregar. (...) Quem vai cuidar da Menina triste? Quem vai levar de prêmio seu amor? Quem tem coragem de assumir o desafio e o coração pesado? Apostem suas moedas, esperem o próximo capítulo. Enquanto isso, a Menina também espera, e esperar dói.


- Verônica H. - 

sábado, 23 de outubro de 2010

Don't ever let me go.



- Posso ficar?
- É claro que você pode passar a noite, Audrey.
-Não só está noite. Pra sempre!

- Markus Zusak -

Diálogo II.

Já estamos aqui há uma hora.
Ritchie se levanta e entra no rio. A água sobe até seus joelhos. Ele diz:
- Nossas vidas são isso, Ed - ele agora está com essa história de que as coisas passam correndo pela gente. - Tô com 20 anos na cara e... - a tattoo de Hendrix-Pryor pisca pra mim sob o luar. - Olha só pra mim: não tem nada que eu queira fazer.
É inegável como a verdade pode ser brutal às vezes. Só dá pra admirá-la.
Geralmente passamos a vida acreditando em nós mesmos. "Eu tô bem", dizemos. "Tá tudo bem". Mas às vezes a verdade pega no pé e não tem santo que a faça desgrudar. É aí que percebemos que às vezes ela nem chega a ser uma resposta, mas sim uma pergunta. Mesmo agora, estou aqui pensando até que ponto minha vida é convincente.
Eu me levanto e vou pra perto do Ritchie no rio.
Ficamos os dois ali, com água até os joelhos, e a verdade acaba de arriar nossas calças.
O rio continua a correr.
- Ed? - Ritchie diz mais tarde. Ainda estamos dentro da água. - Só tem uma coisa que eu quero.
- O que é, Ritchie?
Sua resposta é simples:

- Querer.


- Markus Zusak -

Diálogo.

"— E eu queria que você estivesse comigo e não com aquele outro cara. Eu queria que fosse minha pele que estivesse tocando na sua...
E aí está.
A estupidez em sua forma mais pura.
— Ai, Ed... — Audrey olha pro outro lado. — Ai, Ed...
Balançamos os pés.
Fico olhando pra eles, e olho pro jeans nas pernas da Audrey.
Ficamos lá sentados.
Eu e Audrey.
E a sem-gracice.
Espremida ali, bem entre nós.
— Você é meu melhor amigo, Ed.
— Eu sei.
Essas palavras podem matar um homem.
Não precisa nem de arma.
Nem de balas.

Só das palavras e de uma garota." 


- Markus Zusak - 

terça-feira, 19 de outubro de 2010



... Porque haverá nos olhos, na boca, nas mãos, nos pés de todos uma ânsia tão intensa de repouso e de poesia, que a paixão os conduzirá para os mesmos caminhos, os únicos que fazem a vida digna: os da ternura e do despojamento. Tenho que só a poesia poderá salvar o mundo da paz política que se anuncia - a poesia que é carne, a carne dos pobres humilhados, das mulheres que sofrem, das crianças com frio, a carne das auroras e dos poentes sobre o chão ainda aberto em crateras. Só a poesia pode salvar o mundo de amanhã. E como que é possível senti-la fervilhando em larvas numa terra prenhe de cadáveres. Em quantos jovens corações, neste momento mesmo, já não terá vibrado o pasmo da sua obscura presença? Em quantos rostos não se terá ela plantado, amarga, incerta esperança de sobrevivência? Em quantas duras almas já não terá filtrado a sua claridade indecisa? Que langor, que anseio de voltar, que desejo de fruir, de fecundar, de pertencer, já não terá ela arrancado de tantos corpos parados no antemomento do ataque, na hora da derrota, no instante preciso da morte? E a quantos seres martirizados de espera, de resignação, de revolta já não terão chegado as ondas do seu misterioso apelo?


- Vinícius de Moares - 

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A princípio ainda classificava lembranças e memórias, tinha consciência de um antes, um durante, um depois, de um real e um irreal, um tangível e um intangível, um humano e um divino: separava minha memória e meus conhecimentos em partes cuidadosamente distintas. Depois que ele começou a rondar minha janela, ou antes, não sei, tudo se confundiu num só bloco, e fiquei assim: esta massa compacta toda à superfície de si mesma!

- Caio Fernando Abreu - 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

How I wish...



Desejo que o seu melhor sorriso, esse aí tão lindo, aconteça incontáveis vezes pelo caminho. Que cada um deles crie mais espaço em você. Que cada um deles cure um pouco mais o que ainda lhe dói. Que cada um deles cante uma luz que, mesmo que ninguém perceba, amacie um bocadinho as durezas do mundo.


- Ana Jácomo -

terça-feira, 5 de outubro de 2010

'Cause you make me smile.

Boas e bobas, são as coisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente ao dobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto de mentirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras. Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete, suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de fruta em qualquer lugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta o meu pensamento e o do outro lado do fio você me diz: estou pensando tanto em você.



- Caio Fernando Abreu -

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Grande Pátria Desimportante.


Enquanto pessoas perguntam por que, outras pessoas perguntam por que não? Até porque não acredito no que é dito, no que é visto. Acesso é poder e o poder é a informação. Qualquer palavra satisfaz. A garota, o rapaz e a paz quem traz, tanto faz. O valor é temporário, o amor imaginário e a festa é um perjúrio. Um minuto de silêncio é um minuto reservado de murmúrio, de anestesia. O sistema é nervoso e te acalma com a programação do dia, com a narrativa. A vida ingrata de quem acha que é notícia, de quem acha que é momento, na tua tela querem ensinar a fazer comida uma nação que não tem ovo na panela que não tem gesto, quem tem medo assimila toda forma de expressão como protesto.


-Fernando Anitelli. -

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Dançando pela vida feito faz-de-conta.

De repente as coisas não precisam mais fazer sentido.
Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim.
O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência.
De certo tudo deve estar sendo o que é.

- Clarice Lispector - 


Teus passos somem
Onde começam as armadilhas.
Curvo-me sobre a treva que me espia.

Ninguém ali. Nem humanos, nem feras.
De escuro e terra tua moradia?

Pegadas finas
Feitas a fogo e espinho.
Teu passo queima se me aproximo.

Então me deito sobre as roseiras.
Hei de saber o amor à tua maneira.

Me queimo em sonhos, tocando estrelas.


- Hilda Hilst -

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Deixa amanhecer.

Eu sei, Que às vezes não sou quem
Te faz rir, Te faz sonhar.

Eu não sei. Às vezes eu não sei
Me conter, Me comportar.

Deixa amanhecer.
Foi meu mal, Foi sem querer.
Vou aprender o que é ser um bom par.



- Moptop -

Ando só.



É preciso coragem. Uma coragem danada. 
Muita coragem é o que eu preciso.
Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção…
porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada.
Sei lá...


- Clarice Lispector -

Silêncio.

E o que aconteceria depois? Pois ela sentia que ele ainda a olhava, mas seu olhar havia mudado. Ele queria alguma coisa - exatamente o que ela achava tao dificil de lhe dar : queria que ela dissesse que o amava. Mas isso ela nao podia fazer. Ele tinha muito mais facilidade para falar do que ela. Ele conseguia dizer as coisas - ela nunca. Assim, naturalmente, era ele quem sempre dizia as coisas, e, por algum motivo, de repente se ressentia disso e a reprovava. Uma mulher fria - era como ele a chamava; nunca lhe dizia que o amava. Mas nao era nada disso - nao era isso. É que ela nunca conseguia dizer o que sentia, isso era tudo.



Virginia Woolf.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Can I?

Deixa eu chegar mais perto?
Deixa eu te olhar o mais próximo que der?
Eu quero ver cada detalhe de teus olhos.
Quero sentir teu respirar em meu rosto.
Deixa eu sentir o teu rosto?
Deixa eu sentir o teu gosto?
Quero te beijar bem lento.
Quero sentir meu coração acelerar.
Deixa eu te abraçar forte?
Me faz acreditar!
Deixa eu te dizer o que sinto quando estou com você.


- Jonathas Iohanathan -

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O que foi e o que ficou.

Eu nunca me apaixonei por você, mas sempre gostei muito. Principalmente porque achei que você gostasse de mim. Admirei seu coração e respeitei seus medos. Agora, já não sei se ainda sinto. Lembra da minha coleção de decepções? Você faz parte dela agora. Não definitivamente pela minha mania de preferir acreditar na inocência. Foi tudo uma coincidência até que se prove o contrário. Foi algum tipo de vingança ou foi só por acaso? Qualquer das opções foi muito infeliz. Se você queria me ver mal, acertou muito. Mas conquistou um sentimento meu desaconselhável. (...) Obrigada por abrir meu olhos. Eu sempre achei que avisar as pessoas do que eu sinto fosse me prevenir de mais decepções, mas eu percebi que só me deixa mais vulnerável. Idiota fui eu, de acreditar cegamente em tudo. Obrigada por me deixar mais seletiva, mais fechada. Seria ridículo culpar você por alguma coisa. O resultado óbvio de tudo o que eu fiz só podia ser isso. Foi melhor que falar.


- Verônica H. -

domingo, 12 de setembro de 2010

Puro simulacro.

Quero mudar minha vida. Tenho 19 anos, é tempo de fazer alguma coisa. Talvez eu tenha medo demais, e isso chama-se covardia. Fico me perdendo em páginas de diários, em pensamentos e temores, e o tempo vai passando. Covardia é uma palavra feia. Receio de enfrentar a vida cara a cara. Descobri que não me busco ou, se me busco, é sem vontade nenhuma de me achar, mudando de caminho cada vez que percebo a luz. Fuga, o tempo todo fuga, intercalada por períodos de reconhecimento. Suavizada às vezes, mas sempre fuga.


- Caio Fernando Abreu -

Que seja.

Vou ser feliz, sem me importar com o que isso irá causar aos outros. O importante é que não estou fazendo mal a ninguém, pelo contrário! Estou apenas enterrando as impurezas e toxinas da minha vida e deixando brotar uma bela e frutífera árvore, e que seja doce...


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Todo cuidado é pouco!


A mulher histérica é coquete e necessita de público. Chama atenção ao primeiro contato pelo estilo “cheguei”, teatral, artificioso, inautêntico, carente de atenção e elogios. O paranóide tenta dominar o mundo pela lógica cruel de seu delírio; o obsessivo vence pela rigidez da organização; o histérico conquista – e principalmente as mulheres histéricas – pelo gracioso jogo de sedução. Mesmo que a tenhamos visto ou conversado muito superficialmente, abraça-nos efusivamente, beija-nos, diz que nos adora.
A mulher histérica faz-nos parecer velhos amigos. Não deixa de ser agradável a falsidade da mulher histérica, especialmente quando a vida está carregada do amargor dos dias. Sem sombra de dúvidas, perdoem-me os perfeccionistas, mas o “me engana que eu gosto”, por vezes, na solidão faz falta.
A mulher histérica não tem emoções somente; ela é a própria emoção personificada. O decote sedutor, o olhar encantador, o cruzar de pernas “voyeristas” faz da mulher histérica terrível arma de êxtase e desenganos. Muda de humor como político de partido. Chora, ri, pedes desculpas depois de agredir, anoitece amando e amanhece abandonando. Declara amor eterno com a mesma facilidade que arruma as malas e vai embora. Tem muito homem inexperiente dormindo debaixo da ponte da existência por causa da mulher histérica.
Nunca contrarie uma mulher histérica. Elogie- lhe o que estiver bonito em suas roupas, adornos e adereços. Você jamais resistirá ao choro e às lágrimas, mesmo superficiais, da mulher histérica. Lembrem-se sempre que Napoleão Bonaparte, conquistador de batalhas, perdia-se ante os prantos de Josefina. Siga-lhe o exemplo.
A mulher histérica é extrovertida, transforma em alegria e dor tudo que toca sua sensualidade. Na sexualidade, no amor romântico, na possessividade, na busca da fama, a mulher histérica é um perigo. Ela faz da busca a fama o centro das atenções. Cuidado! Muito cuidado! Os seus olhos, como seu sexo são de uma lubricidade infinita.
O olhar desconcertante. A expressão corporal é de profunda provocação sedutora para o amor. A mulher histérica carrega em seu olhar úmido a carência do afeto. E mais que isso: possui esse olhar úmido da tragicidade, do encantamento, do devaneio e das grandes paixões eletrizantes. O problema, para o frágil homem envaidecido, é que a mulher histérica em seu narcisismo, vai fazê-lo sensivelmente amado, quando na verdade ela ama só a si. Vaidosa, egocêntrica exibicionista, dramática, faz o teatro para si e para o mundo, no exato papel que o mundo ou a vida lhes nega. Cuidado homem vaidoso, com o amor da mulher histérica: é forte e ao mesmo tempo falso; intenso e frágil; profundo e superficial. Muita atenção: ela é imprevisível. A mitomania, mania de mentir e acreditar na própria mentira, é fundamental como traço de sua personalidade. Mistura fantasia e realidade, não sabendo quando uma começa e outra termina. De imaginar fértil e fantasiosa, pode chegar a calúnia para chamar a atenção sobre si e sentir-se o centro do mundo. Pode afirmar a você, homem frágil, que foi cantada, inventar histórias onde são vítimas da sedução sexual, sentir-se perseguida pelo marido, médico ou namorado da irmã. Assim engana e se engana para ser valorizada.


- Maurilton Moraes -

Reinvento

Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos — para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido. Pensar é transgredir.

.Lya Luft

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O diabo anda solto.



Ninguém vivia pra sempre.
Afinal, a vida é um upa.
Não deu pra ir mais além.
Quem mandou não ser devoto
de Santo Inácio de Acapulco,
Menino Jesus de Praga?
O diabo anda solto.
Aqui se faz, aqui se paga.


- Paulo Leminski -

domingo, 5 de setembro de 2010

Pessimismo romântico ou realismo neoliberal?

A finalidade deste artigo, aparentemente esquizofrênico, é demonstrar que o amor moderno tem o mesmo valor especulativo das bolsas de valores. Ora, se para os mais entendidos no assunto o amor da escravatura não é igual ao amor romântico inventado pela cavalaria do século XII, e muito menos semelhante ao amor romântico da burguesia, compreenderão com facilidade didática: o amor neoliberal, o amor do “ficar”, é tão rápido e fugaz quanto o capital especulativo das bolsas de valores que se comporta como uma “nuvem de gafanhotos”, oscilando entra a Tailândia e Nova York, Alemanha e Cingapura, Taiwan, Hong Kong, e até no Brasil. A tese é muito simples: o amor é tão amorfo, tão “sincero” quanto a ligação sexual entre Dow Jones (índice da bolsa de Nova York) e Sang Seng (índice de Hong Kong). Ou seja, no amor moderno não há segurança alguma.
Para vocês, amigas e amigos, que andam chorando o amor perdido, não se precisa recorrer ao velho Marx para entender a questão. Mas, vale a pena dizer que mesmo após a queda do Muro de Berlim, a consciência individual ainda é reflexo da consciência social. E a consciência social está dependente das relações de produção de produção e trabalho. Ora, meu caro, se não há estabilidade mais em nada; se os empregos desaparecem e se transformam; se a notícia é verídica pela manhã e inverídica pela tarde; se tudo é volátil, como você pretende que o seu amor seja eterno? Não chore por mais um amor, ele agora é neoliberal, dura pouco, não resiste a duas ou três crises, como na bolsa.
Basta andar pela noite e entenderá a correlação do neoliberalismo e o amor. Os sedentos de amor percorrem dois, três e até mais bares, uns à procura de aventuras de lucro (os mais modernos), e outros em busca de uns relacionamentos estáveis, igual ao tempo dos nossos pais e avós, como se num passe de mágica voltassem a existir. Uns querem “ficar”, outros “estar”. São verso e anverso de uma medalha: a luta contra a solidão.
(...) Por isso mesmo – “Perdidos na Noite Suja” - não se desiludam. Acostumem-se. O mundo mudou. Filhos não amam os pais como antigamente; a solidariedade é antagônica à competência; os jovens brigam com os pais por dinheiro do “shopping” e nem entendem o que é Bolsa de Valores. Muito menos lêem jornais ou assistem a noticiários. O perfil do amor e da família será diferente no século XXI. Desenganem-se de amores eternos, embora possam surgir por escape da lei das probabilidades.
Homens e mulheres estão como especuladores das bolsas. Esperam a fragilidade e a desvalorização cambial dos afetos. Poucos ganham e muitos perdem. E tamanha competição entre homens e mulheres na luta pela felicidade termina em alta de juros: juros da dor.


- Maurilton Moraes - 

Não tem preço.



Depois foi ao Hyde Park e deitou-se na grama quente,
abriu um pouco as pernas para o sol entrar. Ser mulher
era uma coisa soberba. Só quem era mulher sabia.
Mas pensou: será que vou Ter que pagar um preço
muito caro pela minha felicidade? Não se incomodava.
Pagaria tudo que tivesse de pagar. Sempre pagara e
sempre fora infeliz.

 - Clarice Lispector -

"A solidão o cerca e o abraça, sempre mais ameaçadora, asfixiante, opressiva, terrível deusa e selvagem mãe das paixões - mas quem sabe hoje o que é solidão... Uma coisa é o abandono, e outra a solidão; eis o que aprendeste agora! Que entre os homens serás sempre selvagem e estranho mesmo que te amem[...] Vens... ouço−te. O meu abismo fala.[...] A cada alma pertence um mundo diferente; para cada alma, toda outra alma é um além−mundo."

Friedrich Nietzsche.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

About me.

Sou de gêmeos. Um signo de ar, mutável. Eu me distraio com tudo e você não imagina a facilidade que eu tenho de viajar sem sair do lugar. Mas nem tudo que nasceu comigo, ficou. Algumas situações amarraram meus pés no chão, fazendo com que eu me agarrasse firmemente à realidade. Paixões platônicas, Lindo, são para crianças. Foi isso que eu repeti silenciosamente, até me convencer. E deu certo. Quando começo a me iludir por alguém, racionalizo tudo: Por que eu me interesso tanto por ele? Por que ele se interessaria por mim? Por que a gente daria certo? E funciona! Esqueço com impressionante rapidez do meu interesse. Ah, as coisas ficam tão mais fáceis desse jeito! Você não sabe, Menino, mas eu machuco as pessoas. Eu faço com que elas se apaixonem por mim como um desafio, como uma criança testando seus limites. Então enjoo do meu jogo e não dou explicações. Destruo corações que se abrem pra mim com tanto esforço, na esperança de terem encontrado alguém legal. Ainda dá pra você fingir que não me viu. Se der tempo, se você tiver o raro dom de controlar seu coração, se o sentimento não estiver suficientemente forte à ponto de você se prender, fuja. Se você nem ao menos me diferencia das outras pessoas que te cercam, como eu imagino, permaneça assim. Não se aproxime, não se apaixone. Não me escolha como a eleita dos seus dias. Escolha uma dessas meninas com perfis de orkut todos iguais, que gostam de msn, que querem ser pedidas em namoro. Essas meninas que choram e sofrem, depois esquecem e ficam submissas. Dessas que conseguem se apaixonar, se apegar, amar. Eu não sou assim. Eu sou fria e jogo com as pessoas - não por maldade, mas porque inconscientemente me envolvo com brincadeiras, que na verdade são vidas de gente que ama e sofre de verdade. É, procure a saída mais próxima e parta de vez para uma relação humana, comum, sólida, eterna na sua duração e cheia de palavras e promessas de carinho. Eu tenho aflição de toque e sou incapaz de jurar amor sem pensar e ter certezas.

- Verônica H. - 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Do lado de cá.


Tu olharás, de noite, as estrelas. Onde eu moro é muito pequeno, para que eu possa te mostrar onde se encontra a minha. É melhor assim. Minha estrela será então qualquer das estrelas. Gostarás de olhar todas elas... Serão, todas tuas amigas. E depois, eu vou fazer-te um presente...

- Antoine de Saint-Exupéry -

Tem explicação?

"Meu irmão, a gente tem que descobrir maneiras
— sejam quais forem — de ficarmos fortes."

... dentro daquela saudade que não ia embora por mais que o tempo passasse e dentro dele, mesmo sem lembrar, apenas agindo, todos os dias eu acordava e tomava banho, escovava os dentes e fazia todas essas coisas rotineiras, igual a alguém que aos trancos, mecanicamente, continua a viver mesmo depois de ter perdido uma perna ou um braço que, embora ausentes, ainda doem - sem poder evitar, inesperadamente, sem querer evitar, outra vez lembrei de Pedro.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

That's it.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas
- E basta de comédias na minh’alma!

- Fernando Pessoa -

Transmutação.

Tenho impressão que alguma coisa na minha cabeça muda. E muda forte. Não sei bem o quê. E como se estivesse muito mais velho. Assim como se um contato frontal com a morte fosse a única coisa que faltava para ficar definitivamente adulto. Pois é. Era terrivelmente real. E feio. E vazio — alguma coisa já não estava mais lá. A alma? Pode ser.

Caio Fernando Abreu.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

The end².

"Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me"


A porta do quarto está aberta, da sala já se enxerga a figura feminina sentada na cama usando apenas uma regata branca e roupa íntima, os pés balançando seguindo o ritmo da música, os cabelos presos no alto da cabeça num coque mal feito deixam algumas mechas caindo no olho, os óculos de aros grossos dão um toque de seriedade, mas com estilo. A boca é pálida, um rosa claro que se confunde com o rosto rosado do calor, mas ela não se incomoda... Os olhos castanhos estão fixos no caderno que segura na mão, está escrevendo. Às vezes a gente se enche de idéias, emoções e momentos mas acaba guardando tudo pra si mesmo chegando a ponto de explodir... Ela criou o costume de escrever, mascaradamente, tudo que lhe acontece. Criou contos, textos longos, curtos, trechos... Todos auto-biográficos. Depois de dois anos ela ainda se espanta ao ver tanta gente se identificando com as dores do amor, o desespero de uma despedida, o mau humor no final de um ciclo... São coisas que você por vezes pensa que só acontecem com você, mas depois percebe que todo mundo passa por isso, todos vivemos experiências semelhantes, de um jeito ou de outro. E ver esse retorno das pessoas só a faz pensar mais na vida e em como ela é passageira e efêmera, as coisas acontecem rápido demais, as pessoas queimam um amor lindo em questão de meses e depois nada mais resta além da rotina, os aniverssários passam voando e ninguém percebe, as brigas com os amigos e família vão acontecendo por motivos cada vez mais idiotas e ninguém se toca disso... A vida vira uma rotina e isso é um erro.
Uma criança grita na rua, são dez e meia da noite, ela levanta os olhos do caderno e observa pela janela a menina de cabelos claros correndo de braços abertos no vento em direção aos pais, ela sorri. Que saudades da infância, saudades de ser criança, de se espantar com as coisas que acontecem no mundo, de ter curiosidade sobre tudo que acontece ao seu redor... Saudades de viver com olhos ingênuos e mente livre. Envelhecer é como usar um toldo sob os olhos, é como sentar num canto da sala e observar apenas as sombras que se formam na parede ao invés de ver o que de fato acontece. Quando se envelhece o coração murcha e perde a cor vermelho sangue que sempre teve, fica um bordô escuro, os olhos precisam de vidros pra acompanhar o mundo, os cabelos despedem-se do corpo e nascem já brancos, a ausência da cor ou talvez o excesso dela.
Ela se levanta e vai até o grande espelho no banheiro, o regime fez efeito, o corpo está voltando a ser como antes, satisfatório. Balança a cabeça de um lado pro outro e observa os cabelos caindo levemente no rosto, por momentos ela consegue ver o reflexo de uma menina sorridente de bochechas rosadas que acena vigorosamente pra ela de um canto distante, ela acena de volta. Manter a inocência da infância é necessário para se viver uma vida boa e completa, é preciso ter sede de conhecimento, é preciso não ter medo do que os outros possam pensar das suas escolhas, é preciso deixar a maldade de lado e acreditar na bondade do mundo, mesmo que seja pouca... Ela ainda existe.
O frio lá fora pede um cálice de vinho, ela caminha com ele de volta pra cama, chega de escrever por hoje. Encosta na parede e ouve lá de longe a voz suave dos irmãos Gallagher dizendo suavemente:

"So don't go away
Say what you say
But say that you'll stay
Forever and a day... in the time of my life
'Cause I need more time, yes I need more time
Just to make things right"


Todos precisamos de mais tempo pra fazer a vida valer a pena, pra fazer tudo certo, pra fazer o que se quer, o que se sonha... Mas o relógio corre sem parar e ninguém sabe ao certo quando o nosso tempo termina aqui, ninguém sabe se a vida continua do outro lado ou não... A única certeza que se deve ter na vida é que o momento é esse, a hora é agora e tem muita coisa nesse mundo que se pode aprender, muita coisa linda pra ver, muita gente pra ajudar, muita música gostosa de ouvir, filmes emocionantes, livros intensos, ar puro, muitos amigos novos pra conhecer, muitos lugares lindos pra visitar... O mundo é esse grande baú de surpresas, algumas boas outras nem tanto, mas de todas elas tiramos um aprendizado que se leva pra vida toda, isso ninguém pode negar.
Apaga a luz de cabeceira, o cálice já vazio está na mesinha ao lado do caderno de anotações. A mulher de vinte e três anos ainda dorme encolhida da mesma maneira que a menina sorridente do espelho, as bochechas rosadas e os cabelos caindo no rosto refletem a inocência ainda contida lá dentro, ela é menina-mulher, inocente e criança, madura e mulher, tudo na medida certa. O baú da vida está embaixo da cama, ainda cheio de segredos.

Cotidiano.

Sempre penso em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assenta e com mais força quando a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos…
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você. Eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, teria sido diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.

Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina.

Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.

Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora,  porque nem você nem eu somos descartáveis.

. . . E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.


Com toda a minha saudade e o amor de sempre.

The end

Você me abandonou e eu nada pude fazer para impedir. você era meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. *te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. e tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota de sangue seu para manter-se viva. você rasga devagar o seu pulso com as unhas para que eu possa beber. mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no quarto.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Cuida de mim enquanto não me esqueço de você.
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.


-O teatro mágico -

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Deixa tudo que eu não disse mas você sabia.



E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.  

- Ana Jácomo -

domingo, 22 de agosto de 2010

I wanna hold your hand.

Olha a luz que brilha de manhã
Saiba quanto tempo estive aqui
Esperando pra te ver sorrir
Pra poder seguir

Lembre que hoje vai ter pôr do Sol
Esqueça o que falei sobre sair
Corra muito além da escuridão
E corra, corra!

Não desista de quem desistiu
Do amor que move tudo aqui
Jogue bola, cante uma canção
Aperte a minha mão.

(...)

- Cidadão Quem -


sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Devaneio.

Vós me obrigais a um esforço tremendo de escre­ver; ora, me dê licença, meu caro, deixa eu passar. Sou sério e honesto e se não digo a verdade é porque esta é proibida. Eu não aplico o proibido mas eu o liberto. As coisas obedecem ao sopro vital. Nasce-se para fruir. E fruir já é nascer. Enquanto fetos fruímos do conforto total do ventre materno. Quanto a mim, não sei de nada. O que tenho me entra pela pele e me faz agir sensualmente. Eu quero a verdade que só me é dada através do seu oposto, de sua inverdade. E não agüento o cotidiano. Deve ser por isso que escrevo. Minha vida é um único dia. E é assim que o passado me é pre­sente e futuro. Tudo numa só vertigem. E a doçura é tanta que faz insuportável cócega na alma. Viver é mágico e inteiramente inexplicável. Eu compreendo melhor a morte. Ser cotidiano é um vício. O que é que eu sou? sou um pensamento. Tenho em mim o sopro? tenho? mas quem é esse que tem? quem é que fala por mim? tenho um corpo e um espírito? eu sou um eu? "É exatamente isto, você é um eu", responde-me o mundo terrivelmente. E fico horrorizado. Deus não deve ser pensado jamais senão Ele foge ou eu fujo. Deus deve ser ignorado e sentido. Então Ele age. Per­gunto-me: por que Deus pede tanto que seja amado por nós? resposta possível: porque assim nós amamos a nós mesmos e em nos amando, nós nos perdoamos. E como precisamos de perdão. Porque a própria vida já vem mesclada ao erro.


- Clarice Lispector - 

Little things.


Ah. Menina, o que foi que foi que aconteceu com você? O que foi que fizeram com você? Eu não sei, eu não entendo. Roubaram a minha alegria, Tiamelinha quando foi pra clínica só dizia isso: roubaram a minha alegria, é tudo uma farsa, aquele olho desmaiado, é tudo uma farsa, roubaram a minha alegria. A primavera, o vento, esperei tanto por essa margarida, e veja só. Atrofiada. Aleijada. As pedras frias do chão da cozinha , rolar nua neste chão, qualquer dia faço uma loucura, faz nada, você está nessa marcação faz mais de dez anos. Mais de dez anos. A gente se entrega nas menores coisas. 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Again.

E de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim, eu digerindo faminto o que o teu corpo rejeita, bebendo teu mágico veneno porco que me ilumina e anoitece a cada dia, e passo a passo afundo nesse charco que não sei se é o grande conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim, nos afastamos depois cautelosos ao entardecer, e na solidão de cada um sei que tecemos lentos nossa próxima mentira, tão bem urdida que na manhã seguinte será como verdade pura e sorriremos amenos...


- Caio Fernando Abreu - 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pânico Lento.

"...amanhã a gente começa de novo. Eu me sinto às vezes tão frágil, queria me debruçar em alguém, em alguma coisa. Alguma segurança. Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo, me conformo, me dou força. Mas a sensação de estar sozinho não me larga. Algumas paranóias, mas nada de grave. O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação, esse contentar-se com quase nada. Estou todo sensível, as coisas me comovem."

Caio Fernando Abreu.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ser novo.

Desejo dar uma volta por aquelas altas e áridas cordilheiras de montanhas onde se morre de sede e frio, por aquela história "extratemporal", aquele absoluto de tempo e espaço onde não existe homem, nem fera, nem vegetação, onde se fica louco de solidão, com linguagem que é de meras palavras, onde tudo é desengachado, desengrenado, sem articulação com os tempos. Desejo um mundo de homens e mulheres, de árvores que não falem (porque já existe conversa demais no mundo!) de rios que levem a gente a lugares, não rios que sejam lendas, mas rios que ponham a gente em contato com outros homens e mulheres, com arquitetura, religião, plantas, animais - rios que tenham barcos e nos quais os homens se afoguem, mas não se afoguem no mito e lenda e nos livros e poeira do passado, mas no tempo e no espaço e na história. Desejo rios que façam oceanos como Shakespeare e Dante, rios que não se sequem no vazio do passado. Oceanos sim! Tenhamos novos oceanos que apaguem o passado, oceanos que criem novas formações geológicas, novas vistas topográficas e continentes estranhos, aterrizadores, oceanos que destruam e preservem ao mesmo tempo, oceanos nos quais possamos navegar, partir para novas descobertas, novos horizontes. Tenhamos mais oceanos, mais convulsões, mais guerras, mais holocaustos. Tenhamos um mundo de homens e mulheres com dínamos entre as pernas, um mundo de fúria natural, de paixão, ação, drama, sonhos, loucura, um mundo que produza extâse e não peidos secos. Creio hoje mais do que nunca é preciso procurar um livro ainda que de uma só grande página: precisamos procurar fragmentos, lascas, unhas dos dedos dos pés, tudo quanto contenha minério, tudo quanto seja capaz de ressuscitar o corpo e a alma.


- Henry Miller. -

Aprendendo.


Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!

- Fernanda Mello. -


Nova óptica.

"Uma vez que você tenha experimentado o vôo,
você irá caminhar com os olhos voltados para cima,
pois lá você esteve e lá você quer estar."

[Leonardo da Vinci]

A gente esquece, sabendo que está esquecendo.



Às vezes me lembro dele. Sem rancor, sem saudade, sem tristeza. Sem nenhum sentimento especial a não ser a certeza de que, afinal, o tempo passou. Nunca mais o vi depois que foi embora. Nunca nos escrevemos. Não havia mesmo o que dizer, ou havia? Ah, como não sei responder as minhas próprias perguntas! É possível que, no fundo, sempre restem algumas coisas para serem ditas. É possível também que o afastamento total só aconteça quando não mais restam essas coisas e a gente continua a buscar, a investigar — e principalmente a fingir. Fingir que encontra. Acho que, se tornasse a vê-lo, custaria a reconhecê-lo.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Falta de ar.


Este lugar é pequeno demais pra mim. Não sei porque ainda estou aqui. O mundo me chama pra ir lá fora, por que será que ainda não fui embora?! Será que a culpa é minha? Será que essa vida fui eu que escolhi? Mas toda vez que eu vejo e penso que não podia está vivendo desse jeito, Eu me arrependo de não fugir. E porque sempre tem alguém que te fale o que fazer, E nem pense no porque você é assim. A verdade só eu sei. Nunca tive, nem terei, um só dia pra viver com quem sempre quis. Se um dia acabará, eu só me pergunto: Será?

Um novo caminho, outras mudanças. Um novo dia, mais esperanças. Perguntas e respostas surgem assim.. Será que virão pra você e pra mim?

- Ladz - 

Far away.


Alguém me interne no paraíso, preciso urgente dar um tempo por lá! O dia passa enquanto eu perco o juízo. Quem foi que inventou que é assim? Sorrisos plásticos cumprindo seu papel enfeitando um rosto de pedra. Se a regra é ser tão simpático, mesmo que seja só pra convencer toda platéia. Abraços vazios, olhares de gelo; Tão descartáveis quanto cascas no chão. Flashes capturam a melhor fachada. Mas quem vê foto não vê coração! Não quero mais fantoches ao redor, agindo sempre assim só quando for conveniente pra ganhar bônus e somar pontos à sua carteirinha de hipócrita oficial.

I wanna be away from here, 
Quando essa bomba explodir!

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Game Over.

Oh, look what you've done
You've made a fool of everyone
Oh well, it seems likes such fun
Until you lose what you had won

 

E o resultado de quem se arrisca, nas loucuras trazidas pela vida, nem sempre é positivo. Mas, “não temos culpa, tentei. Tentamos.

Quando tudo isso começou, eu não queria me envolver com ninguém. Não mais. Estava cansada de me doer por alguém que jurava me amar, que dizia sonhar em ficar comigo. Atitudes incoerentes, promessas volúveis, coração em pedaços. Foi nesse meio que você me encontrou. E olha só, faziam apenas quatro dias que eu havia chorado pelo “amor de minha vida.” E eis que você me aparece. Assim mesmo, por acaso.

 Foi tudo tão rápido. Quando me dei conta, já tinha acontecido. Eu já tinha arriscado tudo àquilo que lutei tanto para ‘preservar’. O que restava era encarar as conseqüências. Pois é, agir sem pensar dá nisso. Agora me responde: Pra quê? Por quê? (...) Não! Não pense você que me arrependo. Não se trata disso. Viveria tudo novamente, se possível. O que estou querendo enfatizar é o produto que tudo isso acarretou na SUA vida. Nosso envolvimento foi uma forma de fugir da realidade, para ambas as partes. Para mim, foi uma fuga que me rendeu esperanças, pois aliviou uma dor que eu não consigo curar. Te agradeço por isso. Mas, e para você? O que restou disso? (...)

 Olha, planejar todo um teatro e atuar fingindo que estava tudo bem só para atingir alguém, não foi a melhor maneira de fugir dos seus problemas. Ainda mais quando esse ‘alguém’ é a pessoa que você diz amar. Quando percebi o que estava se passando, atuei com um personagem diferente. Fui mocinha e vilã. Fiz o melhor que pude. Mas, até agora não compreendi o que você pretendia com tal representação. 

Dá pra entender onde eu quero chegar? Você errou. Eis a questão. Mas, não sou ninguém para te julgar... Também já usei de atitudes insanas e desesperadas para chamar atenção da pessoa que, supostamente, amava. E sabe qual foi resultado? Inútil. Não muito diferente do seu agora. Na época, só acabei criando um abismo sem fim no qual me perdi, e pior, perdi o meu amor. Isso soa familiar para você? Sente algo semelhante no presente momento? Se for assim que se sente, eu te compreendo completamente. E repito: não te julgo.

 Embora tenha dito: “Estou bem. Preciso apenas resolver coisas pendentes da minha vida...” Você está sofrendo, isso é fato. A quem você esta querendo enganar? Sorri para o mundo quando a sua única vontade é sentar e chorar. Meu Deus! Como consegue? Pare com isso! Pare com essa farsa. Não percebe que isso te consome cada dia mais? Que só faz crescer a sua dor? Para de mentir para consigo. Encare as conseqüências de seus atos de cabeça erguida. Chore. Sinta. Peça desculpas. Não desista. Você sabe que o tempo é curto. Que cada dia a mais, é um a menos... E setembro está ai, viu? Chegando para acabar com o mês do desgosto, e para levar o seu amor embora. Você sabe a que me refiro.

 É bem verdade que não se pode mais voltar atrás. Mas, me diz uma coisa: Você vai realmente se conformar com esse desfecho? Vai deixar o seu amor 'perdido' ir embora assim? Com tantos ressentimentos? Depois de tudo que vocês viveram? Caramba, acorda! Isso pode ser mudado, basta você querer. Não seja idiota, não deixe isso se perder. Tente pelo menos. Se não der certo, é por que não era pra ser. Mas, vai lá... Faz um esforço. Saia desse comodismo barato e lute pelo que você acredita ser verdadeiro. Porque se não fizer isso agora, amanhã terá que aprender a viver com o que poderia “ter sido e não foi”.

 Enquanto isso estarei aqui, torcendo para que esse final seja diferente. Veja bem, não te quero mal nenhum. Se chegar a ler esse texto até o fim, que compreenda o valor dessas palavras. Quem sabe um dia a gente não se cruza nessa cidade e acaba conversando sobre as coisas boas que ficaram disso tudo que aconteceu? Hoje, eu quero apenas que você desperte e não se deixe sucumbir ao estado de inércia em que se encontra. Por mais dificil que a situação esteja e/ou pareça, tenha sempre isso em mente: “...é só você se deixar sentir, não temer, só sorrir. Dizer que só quer ser feliz.”

Queira ser feliz, ouviu? Isso é o que importa...

 

Lara Leite



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A[des]gosto

Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro — e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco. É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente ah!, escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.


[Caio Fernando Abreu]

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O sol, a lis e o beija-flor.

Flor de Lis, não vá dizer. Se o vento tem compaixão pra te ver, te fazer esquecer da dor do coração. Eu sei que o farol te faz relembrar das noites com girassol. Talvez se você não chorar,  se você me deixar ajudar. Te tocar no coração, saber que mais forte que a dor é o amor que bate por ti. O amor do tão bom beija-flor. Flor me diz o que fazer se um beijo seu não posso ter, Se não fiz por merecer. Quem sabe se eu te disser: Mais duro é o amor de partir, Se fica a olhar ele ir. Mais puro é o amor que está aqui, É só você se deixar sentir. Não temer, só sorrir. Dizer que só quer ser feliz. Poder ver o pôr-do-sol com o beija-flor, não mais com o girassol.

- Circuladô de Fulô. -

terça-feira, 27 de julho de 2010

Julho.

Uma noite. Uma reunião de amigos. Pessoas novas. Olhares que se cruzam. Bebidas. Risos. Algumas palavras trocadas. E novamente, olhares que se cruzam. Música. Brincadeiras. Fotos. Agora um olhar trocado sem medo. Depois disso, tudo acontece em frações de segundos. Mas o momento é único. Loucura. Mais bebidas. Riscos. Conseqüências. Murmúrios. Tensão. Julgamentos. Medo. Insegurança.

Lara Leite.

Desabafo.

Queria entender. Entender as pessoas e seus comportamentos bipolares. Entender porque somos atingidos pelas intempéries da biosfera. Entender porque me sinto tão flagelada pelo tempo... Tantas perguntas, nenhuma resposta. Isso me aflige. Entorpece-me, e me enlouquece a cada dia que passa. Ter uma mãe que não compreende e ainda te impõe às regras do sistema. “Não faça isso.” “Você não está estudando.” “Está na hora de voltar para casa”. (...) Cara, isso cansa! Quero sair, quero viver, quero ser livre... É pedir demais? Estou sufocando aqui dentro. Cada vez mais e mais e mais... E só me pergunto: Meu Deus! Até quando? Está cada vez mais difícil suportar tal fardo. Quanto mais ela pede para não fazer, mais eu faço... Mais eu bebo, mais eu corro riscos, mais saio dos eixos. Afinal, já aderi à filosofia do Calvin: “Faça o que tem que fazer e deixe os outros discutirem se é certo ou não.”.


Lara Leite.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Tempo e vida.


 Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma. Até quando o corpo pede um pouco mais de alma. A vida não pára. Enquanto o tempo acelera e pede pressa. Eu me recuso, faço hora, vou na valsa. A vida é tão rara. Enquanto todo mundo espera a cura do mal e a loucura finge que isso tudo é normal. Eu finjo ter paciência. O mundo vai girando cada vez mais veloz. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência. Será que é tempo que lhe falta para perceber? Será que temos esse tempo para perder? E quem quer saber? A vida é tão rara, Tão rara...

- Lenine -

Sobriedade.

Bebendo, Vida, invento casa, comida
E um Mais que se agiganta, um Mais
Conquistando um fulcro potente na garganta
Um látego, uma chama, um canto. Amo-me.
Embriagada. Interdita. Ama-me. Sou menos
Quando não sou líquida.

- Hilda Hilst -

I'm here.


Não é fácil, nunca foi. Acordar e de certa forma sentir o mundo diferente, o sentimento de algo que, mesmo distante, fará falta. Queria estar do teu lado e poder te confortar, dizer as palavras que você precisa ouvir, ou apenas calar e te oferecer meu ombro. Por que você não abre mão da tristeza e sorri para quem sempre quis te ver sorrindo? É doloroso, eu sei, sempre é, e eu quero estar do teu lado, te ver cuidar dessa dor, se recompor, e te ajudar nisso. Você é forte o suficiente, nós dois sabemos. Quer conversar? Me chama. Quer meu ombro? Chega mais perto. Me quer por perto? Olha para o lado.


- Jonathas Iohanathan - 

Um ponto de interrogação.

Sei lá. De duas, uma: ou eu fui muito fudida na minha outra vida, ou eu casualmente nasci na espécie errada. É sério. É como se às vezes, eu meio que parasse de ser pela metade. Entende? E que Raul Seixas não me ouça, mas essa coisa de “metamorfose ambulante” em certos dias me desgasta tanto, que eu acabo parecendo mais um estepe de mim mesma, no melhor estilo da substituta que entra em cena quando os outros pneus furam. É um egoísmo meio estranho, mas às vezes eu só queria.. sei lá, me sentir eu mesma sem ter que me dividir com as outras caras que o espelho não mostra. Você entende? Porque eu até consigo ser mil, mas no final é só a velha e amarga sensação de ser só mais uma. Uma caloura um pouco boba e infantil que quase nunca sabe ao certo como é ser humana.


- a.d -

domingo, 25 de julho de 2010



"Não importa, nada importa. Se eu ficar dentro de casa esperando ser feliz para ser feliz, eu não vou ser feliz nunca. Se eu ficar dentro de casa esperando que uma perfeita unidade nasça de dentro dessa confusão de mil personagens que é minha alma, eu não vou sair de casa nunca mais.
A vida dói mesmo, é fato, sempre doeu, não é novidade."

 - Tati Bernardi -



quarta-feira, 21 de julho de 2010

Start.

Dessa vez não vou evitar dizer o que está na minha cabeça só porque eu sei que minha mente geminiana vai negar no dia seguinte, não fugirei de palavras bonitas porque quem diz não é uma pessoa perfeita, não arrumarei mil defeitos pra brigar contra as novecentas e noventa e nove qualidades, não desviarei meus olhos por medo de ter minha mente lida, não sumirei por medo de desaparecer, não vou ferir por medo de machucar, não serei chata por medo de você me achar legal, não vou desistir antes de começar, não vou evitar minha excentricidade, não vou me anular por sentir demais e logo depois não sentir nada, não vou me esconder em personagens, não vou contar minha vida inteira em busca de ter realmente uma vida.
Dessa vez não vou querer tudo de uma vez, porque sempre acabo ficando sem nada no final.
Estou apostando minhas fichas em você e saiba que eu não sou de fazer isso. Mas estou neste momento frágil que não quer acabar. Fiquei menos cafajeste, menos racional, menos eu. E estou aproveitando pra tentar levar algo adiante. Relacionamentos que não saem da primeira página já me esgotaram, decorei o prólogo e estou pronta pro primeiro capítulo.


Verônica H.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que, enleado nos teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria vida,
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus."

Fernando Pessoa.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um dois do par.

(...) Ei, vamos brincar?
Desatinar o tido par é fácil
É só recontar e um dois do par virá dois um
Eu vou retocar e um dois virará dois um

Do par, a parte que me toca
não te toca caber não
Pra que de arrebanhar o vasto
se eu já desvendo encanto à imensidão?

Vem, vamos brincar
Desinventar o dito par é fácil
É só remontar e um dois do par virá dois um
Eu vou retomar e um dois virará dois um

Você é tão...não sei te definir
É como luz brincando cor
Se o par é um dois ou se ele é dois um
Melhor brincar de sermos duns (...) 

[Nuda.]

Só você.

Duas horas da manhã, vento frio entrando sorrateiramente pela janela me pegando de surpresa com o corpo semi nu fora da cama, estou pensando em você. O tic tac do relógio martela os segundos incontáveis nos quais meus olhos se negam a fechar, o luar projeta desenhos no teto enquanto brinca com a cortina púrpura, até agora já vi animais, flores e objetos, mas só penso em você.


Faço cara feia para a parede quando lembro da nossa conversa dias atrás, quando você disse que eu não sentia sua falta, quando disse que eu vivia com pessoas ao meu redor me mimando e tentando lutar pela minha atenção... mas que bobo! Será que você nunca se perguntou porque estas pessoas vivem fazendo isso? É porque elas nunca conseguem minha atenção inteiramente, pois meus pensamentos rondam os seus, eu vivo procurando você nas ruas... não me vê?

Sinto sua falta todos os dias, como um peixe fora d'água que precisa respirar e não consegue. E esse teu medo bobo que eu me jogue em outros mares, que respire outros ares e me banhe em águas estrangeiras me deixa tão chateada! Eu quero tanto ser tua, tanto me entregar pra você, apenas pra você... todos os dias e noites, todas as horas e minutos, contar os segundos pros teus olhos se abrirem todas as manhãs e encontrarem os meus, ta difícil perceber isso?

Os olhos se fecham, o sono me pega, me entrego aos braços de Morfeu, Senhor dos Sonhos, eis que você surge. Tão bom sonhar contigo, ver o teu sorriso à poucos milímetros do meu rosto, poder encostar a minha boca na tua e, em silêncio, na suavidade do beijo, te mostrar esse sentimento acumulado que só quer sair do corpo e virar realidade constante.


[Lorrayne T.]


(modificado.)

Carpe diem.

Não procure ser coerente o tempo todo. Afinal, são Paulo disse que “a sabedoria do mundo é loucura diante de Deus”.
Ser coerente é usar sempre a gravata combinando com a meia. É ser obrigado a ter, amanhã, as mesmas opiniões que tinha hoje. E o movimento do mundo – onde fica?
Desde que você não prejudique ninguém, mude de opinião de vez em quando, e caia em contradição sem se envergonhar disso.
Você tem este direito. Não importa o que os outros pensem – porque eles vão pensar de qualquer maneira.

Por isso, relaxe. Deixe o Universo se movimentar à sua volta, descubra a alegria de ser uma surpresa para você mesmo. “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios”, diz são Paulo.


[Paulo Coelho]

Súbito Encontro.



Sentada no chão, encontrarias a moça vestida de azul. Pela terceira vez, tu serias invadido pela imagem. Desta vez, a moça. Tu: vindo de um caminho conhecido, em passadas às vezes lentas, leves, outras pesadas de espantos, quedas, quebras, tu: vindo por um caminho determinado, um caminho definido em pedaços de pedras, sobre as quais tu pisavas. Era o teu caminho: um caminho de pedras desfeitas desde a praia até a moça. A moça.

E a moça? De que lugar teria vindo? Que caminhos teria pisado? Que insuspeita das descobertas teria feito? Tu olharias a moça mas, as perguntas não acorrendo, o mistério que a envolveria seria desfeito -uma moça vestida de azul, sentada no chão de uma praça sem lago. Não poderias saber nada de mais absoluto sobre ela, a não ser ela própria. Fazendo perguntas, tu ouvirias respostas. Nas respostas ela poderia mentir, dissimular, e a realidade que estava sendo, a realidade que agora era, seria quebrada. pois, não fazendo perguntas, tu aceitarias a moça completamente. Desconhecida, ela seria mais completa que todo um inventário sobre o seu passado. Descobririas que as coisas e as pessoas só o são em totalidade quando não existem perguntas, ou quando essas perguntas não são feitas. Que a maneirar mais absoluta de aceitar alguém ou alguma coisa se ria justamente não falar, não perguntar -mas ver! Em silêncio.

Tu verias a moça.

A moça ver-te-ia?

Sentarias no chão, ao lado dela, tentarias descobrir nos olhos ou na boca ou em qualquer outro traço um sinal não de reconhecimento, mas de visão E pensarias que o que faz nascer as perguntas não é uma necessidade de conhecimento, mas de ser conhecido. Porque tu não saberias se a moça sentia a tua presença. Falando, ouvirias a tua própria voz, solta na praça, e terias a certeza de que a moça te ouvia. Ainda que não te visse, na visão completa que terias acabado de descobrir.


[Caio Fernando Abreu]

sábado, 17 de julho de 2010

Diálogo II.


- Devíamos ter mais opções de escolha.
- Como assim?
- Escolher de quem gostar, por exemplo...
- Isso não dá.
- E se desse, o que você faria?
- Ainda assim escolheria você.

Cáh Morandi.

(.)

Contar o tempo. Fazer dele seu aliado ou conhecer teu pior adversário. Fechar os olhos, esquecer de tudo que existe. Manter o foco. Lentamente se permitir não ouvir nenhum som, não sentir nenhum perfume. Agora você está pronto para ver aquilo que só existe verdadeiramente longe de todos os sentidos. Você dorme bem a noite? Com o que você sonha? Ah, eu sonho todo o dia o mesmo sonho. Todo e singular dia. O mesmo sonho. E quando eu o alcançar, eu não sei quem vai estar lá na linha de chegada. Ou sei? Pelo o que você vive? O que importa pra você?… Porque pra mim já tanto faz, já não sei mais. O que é mais importante vem em primeiro lugar? Mesmo? Isso eu também não sei. É relativo. Mas pra mim, o importante passa à frente. O importante é ser feliz. Eu vou. Eu quero. Eu sei como ser.

Jonathas Iohanathan.

O que restou.

Você foi covarde. Com sua ternura pálida, seu medo de tudo, sua polidez em cumprir as promessas. Você não aprendeu a mentir. Tampouco aprendeu a dizer a verdade. O dia está escuro e não soprarei a luz ao seu lado. O dia está lento e não haverá movimento nas ruas. Você não revidou nenhuma das agressões, não revidará mais essa. Você foi covarde. A mais bela covardia de minha vida. A mais comovida. A mais sincera. A mais dolorida. O que me atormenta é que sou capaz de amar sua covardia. Foi o que restou de você em mim.

Fabrício Carpinejar.



Única certeza.



Eu tenho MEDO de acreditar em você, de te desejar tanto tanto e acabar descobrindo que eu ainda tenho um coração e que ele ainda pode amar muito alguém. Não, eu digo a mim mesma, eu não vou me apaixonar e nem desejar saber tudo ao seu respeito, querer conhecer sua mãe e ser apresentada aos seus amigos. Você não sabe, mas quando eu chego em casa eu repasso cada palavra que você disse, cada gesto que você fez, cada beijo seu e me pergunto se vale mesmo a pena.Você é uma pessoa gentil, simpática e diz todas as coisas que deveria, pena que você não sabe que esse é seu maior problema. Minha vontade agora é sumir. Chamar você. Me esconder. Ir até a sua casa e te beijar e dizer que te amo e que você é importante demais na minha vida para eu te abandonar. Sacudir você e dizer que você é um otário porque está me perdendo dessa maneira. Minha vontade é esquecer você. Apagar você da minha vida. Lembrar de você a cada manhã. Pensar em você para dormir melhor. Imaginar nossa vida juntos, naquela casa bonita com cachorros e com a sua filha correndo pela sala. Então eu percebo: IT'S ME, e minhas vontades são bipolares demais. Só o que não é bipolar demais é a minha ganancia por te ter. Sim, eu escolheria você. Se me dessem um último pedido, eu escolheria você. Se a vida acabasse hoje ou daqui mil anos, eu escolheria você.

Tati Bernardi

Diálogo.

— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)

— Ah. Porque eu sou tímida.


[Rita Apoena]

quinta-feira, 15 de julho de 2010

(!)

Neste exato segundo em que o planeta terra passeia pelo sistema solar, há uma infinidade de vidas que se iniciam e outra infinidade que chega ao fim. É natural. Talvez chegue um dia em que morrer será a exceção e o mundo atingirá sua lotação. Para isso existe a ciência, a medicina: evitar que a vida chegue ao fim. Viver alcança seu valor máximo. Tanta gente aprendendo a sorrir com conquistas, mas a maioria ensaiando o futuro. Não é o que eu quero. Quero mesmo é o presente. Cansei de me preparar para um dia que pode não chegar. Existe vida no agora? Se houver, eu vou encontrar.

Eu tenho essa urgência de viver, essa pressa de qualquer coisa que ultrapasse a inércia. É isso que me faz jogar dados ao acaso e me atirar de carros em movimento, é por isso que ando longe de viadutos. Meu suicídio diário não é uma forma de morrer. É uma tentativa desesperada de encontrar essa vida, testar minha capacidade de quase ir e voltar, descobrir se eu mereço estar aqui e se existe mesmo um deus. Afinal, ele concorda ou não com a minha maneira de encarar as coisas? Por que não me castiga por ser tão estupidamente desapegada? É minha necessidade de viver que me mata.

Tenho a impressão de ter atingido o auge da minha maturidade, mas não tenho espaço físico ou moral pra existir nessa condição. Estou pronta pra largar tudo pra trás todos os dias, mas algo finca meus pés no chão sem aviso prévio. É preciso ser coerente pra ser aceito, mas como não me contradizer tentando achar um equilíbrio? Como não ser um pouco louca nesse mundo tão absurdo?

Não adianta me oferecer o discurso de faculdade-emprego-família como verdade absoluta. A gente não aprende a viver sentado numa carteira de colégio. Não é a fórmula de Pitágoras ou a definição de pronome oblíquo que vai fazer com que eu seja mais ou menos inteligente. Saber organizar informações burocráticas em série e ser programado roboticamente não faz de ninguém um ser humano repleto. Isso tudo só rende uma possível colocação relevante numa prova de vestibular, um êxtase momentâneo. A vida se aprende nas perdas. É perdendo a liberdade que a gente descobre que não se encaixa, é perdendo alguém que a gente descobre que não vale a pena lutar por futilidades, é perdendo o apoio que a gente descobre que o resto do mundo não para só porque nosso mundo parou. A gente vai aprendendo a viver assim, na marra, no grito, no sufoco, no impulso. Eu quis mudar o mundo, quis ser brilhante, quis ser reconhecida. Hoje eu quero bem pouco e prefiro me concentrar no agora do que planejar um futuro incerto. Eu me libertei da culpa e dei de cara com algo novo: não me encaixo, e aceito. Não é justo perder as asas no momento em que se descobre tê-las. É preciso poder voar, é preciso ter uma visão estratégica das janelas. Ver o sol e não poder tê-lo é absurdo.

Então eu deixo algumas coisas passarem incompletas porque tenho consciência de que certas palavras ainda não têm tradução. Por mais que eu grite, vai ter quem não entenda, não aceite. O que eu não aceito é ter nascido num mundo tão grande e conhecer só uma pequena parte. Vou voar. Quem conseguir compreender, que me acompanhe.


Verônica H.